Moraes autoriza investigação de insider trading após tarifaço de Trump

Moraes autoriza investigação de insider trading após tarifaço de Trump

Em 21 de julho de 2025, Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal autorizou a abertura de investigação criminal por insider trading no mercado de câmbio brasileiro.

A decisão chegou após a Advocacia‑Geral da União (AGU) apontar movimentações atípicas realizadas poucas horas antes do anúncio das tarifas comerciais de 50% dos EUA contra o BrasilWashington, D.C. pelo então presidente Donald Trump.

Contexto das tarifas comerciais americanas

No dia 9 de julho de 2025, Trump enviou uma carta oficial ao governo brasileiro anunciando a aplicação de tarifas de 50% sobre uma série de produtos, incluindo aço, alumínio e alguns bens de consumo. O objetivo, segundo o próprio governo dos Estados Unidos, era “retalhar práticas comerciais consideradas desleais”. A medida provocou uma reação imediata nos mercados financeiros, com o real perdendo cerca de 2,5% em relação ao dólar nas primeiras horas.

Especialistas em comércio internacional apontam que a estratégia de “tarifaço”, como foi apelidada pela imprensa, segue um padrão de pressão usado pelos EUA contra países como África do Sul, México, Canadá e até a União Europeia nos últimos anos. Cada anúncio costuma desencadear volatilidade nos mercados de câmbio e de commodities.

Operações de câmbio suspeitas

De acordo com o relatório da AGU, alguém – cuja identidade ainda não foi revelada – comprou entre US$ 3 e 4 bilhões em dólares ao câmbio de R$ 5,46 às 13h30 do mesmo dia 9/07. Três horas depois, às 16h17, a carta de Trump foi publicada. Em um intervalo de apenas três minutos, às 16h20, a mesma conta vendeu toda a posição ao novo valor de R$ 5,60, gerando lucro estimado entre R$ 420 milhões e R$ 560 milhões.

O volume da operação, aliado ao timing extremamente preciso, levantou suspeitas de que informações privilegiadas tenham vazado antes do anúncio oficial. A AGU comparou o caso com situações semelhantes observadas em tarifas impostas à África do Sul (2023) e ao México (2024), onde operações de grande porte também antecederam os comunicados governamentais.

Decisão de Moraes e abertura da investigação

Na sessão da 9ª Turma do STF, Moraes considerou o pedido da AGU e determinou que a Polícia Federal ou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) tomem a frente da apuração. “Há indícios suficientes de que informações confidenciais possam ter sido utilizadas para benefício pessoal”, escreveu o ministro em sua decisão.

Além da esfera criminal, o documento oficial destaca que o uso ilícito de informação privilegiada pode acarretar responsabilidade civil e administrativa, inclusive para investidores lesados.

Suspeita envolvendo Eduardo Bolsonaro

Suspeita envolvendo Eduardo Bolsonaro

Uma das linhas de investigação aponta para o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que teria tido acesso a documentos internos da embaixada dos EUA em Brasília. Segundo uma fonte próxima à AGU, conversa por aplicativo de mensagens mostraria que ele teria repassado detalhes da carta de Trump a um corretor de moedas antes da publicação oficial.

Até o momento, o deputado nega qualquer irregularidade e afirma que trata‑se de “especulação sem fundamento”. Ainda assim, a possibilidade de vazamento por um agente político eleva o caso a um patamar de interesse público maior.

Reações do mercado e da comunidade jurídica

Corretoras de câmbio registraram um aumento de 15% nas consultas sobre a legislação de insider trading nas últimas 24 horas. “Investidores estão temerosos, porque um caso assim pode sacudir a confiança no mercado de foreign exchange”, explicou a economista‑sênior Claudia Mendes da XP Investimentos.

Por sua vez, a TV Globo, que inicialmente revelou a operação bilionária, prometeu acompanhar o desenrolar da apuração, afirmando que “a transparência é essencial para que o público possa entender se houve abuso de poder”.

Implicações legais e possíveis desdobramentos

Se a investigação confirmar que informações confidenciais foram compartilhadas, os acusados podem enfrentar pena de 1 a 5 anos de prisão, conforme a Lei nº 7.179/83, que trata do crime de uso de informações privilegiadas. Além da pena privativa de liberdade, as multas podem chegar a 100% do lucro obtido, o que significaria um impacto financeiro de até R$ 560 milhões.

Há ainda a possibilidade de processos civis por danos a investidores que tenham sido prejudicados pela volatilidade artificial criada pelas operações suspeitas. Empresas de corretagem podem ser multadas pela CVM caso se comprove falha na vigilância.

Antecedentes e padrões de atuação

Antecedentes e padrões de atuação

Historicamente, casos de insider trading no Brasil costumam envolver ações de empresas listadas na B3, mas o mercado de câmbio tem se tornado alvo mais frequente devido à sua alta liquidez. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) tem intensificado a fiscalização, especialmente após escândalos envolvendo políticos e grandes bancos nos últimos cinco anos.

O “tarifaço” de Trump pode, portanto, marcar um ponto de inflexão, mostrando que decisões políticas de alto impacto são acompanhadas de tentativas de exploração por parte de agentes bem informados.

Próximos passos

A Polícia Federal deve abrir um inquérito nos próximos dias, requisitando documentos de corretoras, registros de mensagens e extratos bancários. A CVM, por sua vez, pretende emitir um parecer preliminar sobre a conduta dos participantes do mercado.

Enquanto isso, analistas recomendam cautela ao operar no real, especialmente em períodos próximos a anúncios oficiais de políticas econômicas ou comerciais internacionais.

  • Data da decisão: 21/07/2025
  • Valor da operação suspeita: US$ 3‑4 bi
  • Lucro estimado: R$ 420‑560 mi
  • Horário da compra: 13h30 (R$ 5,46)
  • Horário da venda: 16h20 (R$ 5,60)

Perguntas Frequentes

Como a investigação pode afetar o mercado de câmbio?

Se for comprovado o uso de informação privilegiada, a confiança dos investidores pode ser abalada, levando a maior volatilidade e a um endurecimento das regras de compliance pelas corretoras.

Quem é o principal suspeito apontado pela AGU?

A investigação citou o deputado federal Eduardo Bolsonaro como pessoa que possivelmente teria repassado detalhes da carta de Trump antes da divulgação oficial.

Qual é a penalidade prevista para quem comete insider trading no Brasil?

A Lei nº 7.179/83 prevê de 1 a 5 anos de prisão, além de multas que podem chegar ao dobro do lucro obtido com a operação ilícita.

Por que as tarifas de Trump geram tanto impacto no real?

Tarifas de 50% sobre produtos brasileiros aumentam a percepção de risco de comércio bilateral, o que costuma desvalorizar a moeda local em relação ao dólar.

Qual o papel da CVM nesse caso?

A Comissão de Valores Mobiliários pode investigar violações de regras de mercado, aplicar multas às corretoras e encaminhar casos de possível crime à justiça.

Autor
  1. Juuuliana Lara
    Juuuliana Lara

    Trabalho como jornalista especializada em notícias do dia a dia no Brasil. Escrever sobre os acontecimentos diários me traz grande satisfação. Além da escrita, adoro discutir e argumentar sobre o andamento das notícias no país.

    • 7 out, 2025
Comentários (1)
  1. Savaughn Vasconcelos
    Savaughn Vasconcelos

    É impressionante como a decisão de Moraes expõe as vulnerabilidades do mercado cambial diante de choques políticos. Ao abrir a investigação, o STF sinaliza que a arbitragem de informação privilegiada não será tolerada, ainda que o contexto seja tão volátil como o “tarifaço” de Trump. Esse caso nos convida a refletir sobre a ética dos intermediários financeiros, que muitas vezes operam nas sombras da diplomacia.
    Além disso, a suposta participação de um parlamentar destaca o risco de conluio entre poder público e setor privado. A transparência é, portanto, a única defesa efetiva contra a exploração de informações confidenciais.

    • 7 outubro 2025
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